A maternidade vem carregada de muitas obrigações ao corpo da mulher, sob a alegação de que é algo biológico, portanto, inato. Aliado à cultura machista e patriarcal, a mulher se vê cercada por discursos que lhe anulam enquanto indivíduo a partir do momento em que passa a gerar uma vida.
Assim, ela é responsabilizada o tempo inteiro pelos cuidados antes e depois do nascimento do bebê, porque “a mãe sabe cuidar melhor do que o pai”; além disso, a decisão sobre o parto nunca lhe compete apenas, é algo compartilhado com toda a sociedade pronta pra julgá-la; ela deve amamentar a qualquer custo, porque se não o faz, é “menos mãe”, “fraca”, “responsável pelos futuros problemas de saúde de seu filho”.
A mulher que se torna mãe e trabalha fora de casa, vê-se na mira do desemprego pós licença-maternidade. As que conseguem escapar das estatísticas, se veem com dupla, tripla, quádrupla jornada de trabalho. E precisam ser ótimas em todas as suas atribuições: se a casa não está limpa, é desleixada; se não consegue recordar-se da hora, do peso e do tamanho que o seu bebê nasceu, é um horror de mãe; se precisa fazer uso do tempo resguardado por lei para amamentar seu filho, é um fardo (opa, mas se não amamenta… volte algumas linhas…); se precisa faltar para levar o filho ao médico, volta para a mira da demissão; se manda o filho doente pra creche ou se deixa com alguém de sua rede de apoio, é cruel.
Poderia estender algumas páginas com essas constatações, mas resumo em uma: a mulher é mais uma vítima do discurso. Muitas mulheres são convencidas de que essas vozes que lhes apedrejam estão certas e reproduzem, seja com ações ou silêncio, a cultura de que os cuidados, não só das crianças, mas de toda a família, devem ser de sua responsabilidade.
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